Práticas Pedagógicas: política, currículo e espaço escolar

praticas pedagogicas

Referência: 

MICHELS, M. H. (Org.) ; GENTIL, H. (Org.) . Práticas Pedagógicas: politica, currículo e espaço escolar. 1. ed. Araraquara: Junqueira&marin, 2011. v. 1.

Sobre o livro:

Nº de pág.: 336

ISBN: 978-85-86305-89-4

Edição: 1ª – 2011

Apresentação ….. 11

Heloisa Salles Gentil & Maria Helena Michels

PARTE I – POLÍTICAS E PRÁTICAS EDUCACIONAIS

CAPÍTULO I

Quatro teses sobre política de formação de professores ….. 21

Maria Helena Michels; Eneida Oto Shiroma & Olinda Evangelista

CAPÍTULO II

O fracasso escolar das crianças migrantes no Japão: as políticas educacionais em discussão ….. 41

Izumi Nozaki

CAPÍTULO III

A educação infantil no contexto pós-reforma: institucionalização e regulação no Brasil e na Argentina ….. 75

Roselane Fatima Campos

CAPÍTULO IV

Avaliação institucional participativa: uma das alternativas de (re)construção da emancipação nos espaços educacionais ….. 97

Elizeth Gonzaga dos Santos Lima

PARTE II – CURRÍCULO E FORMAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR

CAPÍTULO V

Interdisciplinaridade no curso de pedagogia: uma prática de difícil construção ….. 131

Ilma Ferreira Machado & Irton Milanesi

CAPÍTULO VI

Educação da pequena infância: um olhar sobre a formação inicial dos professores de educação infantil ….. 151

Moema Helena Koche de Albuquerque Kiehn

CAPÍTULO VII

Experiências de estagiários de licenciaturas: as relações entre a universidade escola ….. 171

Heloisa Salles Gentil

PARTE III – ESCOLAS E RELAÇÕES PEDAGÓGICAS

CAPÍTULO VIII

Escola e formação escolar: reflexões a partir da produção do grupo de trabalho educação fundamental da ANPEd (2000–2005) ….. 195

Solange Aparecida da Rosa & Maria Isabel Batista Serrão

CAPÍTULO IX

Elementos políticos e pedagógicos em cartilhas escolares italianas ….. 217

Claricia Otto

CAPÍTULO X

A sombra da violência na relação pedagógica: um estudo das representações de dirigentes e professores de escolas de ensino fundamental e médio ….. 233

Emília Darci de Souza Cuyabano

CAPÍTULO XI

Fazeres na pré-escola: uma prática consistente? ….. 261

Maria Izete de Oliveira & Rinalda Bezerra Carlos

CAPÍTULO XII

Mediação na prática pedagógica de professores dos ciclos iniciais do ensino fundamental ….. 287

Tatiane Lebre Dias; Sônia Regina Fiorim Enumo; Mirian da Silva Marinho Moreira & Fabiana Muniz Mello Félix

CAPÍTULO XIII

Escola, multiplicidade e desejo: agenciamentos necessários ….. 305

Maritza Maciel Castrillon Maldonado

Notas ….. 321

Sobre os Autores ….. 331

Apresentação:

Este livro é fruto de um trabalho de cooperação acadêmica entre a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), especificamente do seu Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação (NEPE), e o Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), viabilizado pelo Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (PROCAD-CAPES). Esta cooperação vem acontecendo deste junho de 2007 e culminou com a aprovação pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) da proposta do curso de Mestrado em Educação da UNEMAT, no final de 2009.

Os estudos aqui apresentados se originam dos trabalhos de investigação realizados pelos grupos de pesquisa das duas instituições, cumprindo o objetivo de efetivar o intercâmbio dos pesquisadores e tornar pública a produção realizada nos Programas de Pós-graduação. Nossa expectativa é colaborar com as discussões contemporâneas acerca das questões educacionais, com o compromisso de promover um diálogo a partir de interrogações a respeito da articulação entre teoria e prática, questão tão cara à área da educação. Análises a respeito das práticas pedagógicas, tanto em nível de educação básica como superior, exigem uma leitura mais ampla da realidade em que estão inseridas na tentativa de compreendê-las. Com esse intuito, apresentamos, neste livro, estudos a respeito de políticas, currículos, espaços escolares que possuem como eixo articulador a prática pedagógica, entendendo-a, com base em Bernstein (1996), tanto como aquela explicitamente apresentada, a pedagogia visível, quanto àquela que não se manifesta a priori, mas que organiza a escola e seus fazeres, a pedagogia invisível.

A parte 1 aborda o tema Políticas e Práticas Educacionais, apresentando análises de políticas educacionais que orientam determinadas práticas pedagógicas. A Parte 2, Currículo e formação no Ensino Superior, concentra os estudos acerca de currículos como expressões de relações pedagógicas e seus determinantes. A terceira parte, Escola e relações pedagógicas, reúne as discussões referentes ao espaço escolar como lugar privilegiado das ações pedagógicas.

Sabemos que as relações analisadas por esses estudos e pesquisas são amplas e, portanto, não serão esgotadas aqui. Porém, temos a clareza das contribuições que essa reflexão sobre as práticas pedagógicas pode trazer para a área educacional.

No primeiro capítulo do livro, quatro textos têm o propósito de articular as discussões entre Políticas e Práticas Educacionais. O primeiro texto intitulado Quatro teses sobre política de formação de professores de Maria Helena Michels, Eneida Oto Shiroma e Olinda Evangelista, apresentam pesquisas desenvolvidas no Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho (GEPETO/UFSC), referentes à formação de professores. Situados no campo da política educacional, tais estudos utilizam referenciais teórico-metodológicos desenvolvidos por autores como Ball, Fairclough, Ozga e Neves. As autoras sintetizam as investigações sobre formação docente em quatro teses: 1ª) profissionalização como estratégia de (con)formação docente; 2ª) desintelectualização do professor; 3ª) certificação de professores e 4ª) reconversão docente. Essas teses são analisadas, também, no que concerne ao ensino fundamental, à educação infantil e à educação especial.

O texto de Izumi Nozaki, O fracasso escolar das crianças migrantes no Japão: as políticas educacionais em discussão busca compreender a relação entre o que a autora denomina de “duplo movimento”: de crescimento gradativo no número de matrículas de crianças brasileiras em idade escolar nas escolas públicas japonesas e de evasão escolar desses alunos. Para tanto, apresenta o contexto da migração de brasileiros para o Japão, evidencia aspectos da política educacional japonesa, analisa especialmente a política curricular e apresenta informações a partir de uma escuta sensível das crianças brasileiras estudantes no Japão. Os resultados de sua pesquisa apontam para as relações entre obrigatoriedade escolar e aprovação automática, permeadas pela questão da diversidade cultural e lingüística, e entre escola e trabalho. Para desenvolver suas análises a autora se fundamenta em autores como Berquó, Tajima, Sacristán, entre outros.

Com o intuito de contribuir com os estudos sobre as novas regulações no campo da Educação Infantil, Roselane Fatima Campos apresenta A educação infantil no contexto pós-reforma: institucionalização e regulação no Brasil e Argentina, buscando discutir os novos marcos regulatórios que orientam a Educação Infantil, especificamente no Brasil e na Argentina. A autora procura explicitar as estratégias políticas adotadas, por intermédio de dados referentes aos dois países, no que tange ao atendimento das crianças de 0 a 3 anos, destacando as novas configurações que orientam as relações entre o Estado e a esfera privada, constituída especialmente pelas chamadas instituições sem fins lucrativos. Em sua perspectiva, as novas configurações do campo da Educação Infantil vêm tornando os limites entre público e privado, o formal e não formal, cada vez mais tênues. Para tais análises a autora recorre especialmente às obras de Ball e Maroy.

A produção de Elizeth Gonzaga dos Santos Lima, intitulada Avaliação institucional participativa: uma das alternativas de (re)construção da emancipação nos espaços educacionais, mostra uma clara articulação entre política e prática avaliativa. A autora apresenta uma discussão conceitual e teórica referente à perspectiva da participação e da emancipação e um debate sobre o Estado avaliador. Este texto aponta para a importância de se usar os resultados da avaliação institucional como estratégias de (re)organização dos espaços institucionais a fim promover mudanças individuais, coletivas e institucionais, sob a lógica da emancipação. Conceitos como espaço social e habitus de Bourdieu e emancipação de Freitas são basilares para a discussão proposta.

Na segunda parte, apresentamos discussões concernentes a Currículo e formação no Ensino Superior por meio de análises a respeito de práticas pedagógicas no ensino superior, no curso de Pedagogia e demais licenciaturas.

Ilma Ferreira Machado e Irton Milanesi, no texto Interdisciplinariedade no curso de pedagogia: uma prática de difícil construção, trazem uma reflexão sobre a interdisciplinaridade a partir da realidade do Curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Jane Vanini, Cáceres-MT. Com as contribuições de autores como Jantsch; Bianchetti, Milanesi, Frigotto, analisam documentos do curso e entrevistas com alunos e apresentam, como uma das conclusões, a idéia de que para que se concretize a interdisciplinaridade três fatores são fundamentais: profissionalidade docente, forma de organização do trabalho pedagógico e gestão escolar. Além disso, a participação dos acadêmicos é considerada extremamente relevante, uma vez que eles se inserem nessa relação em uma dupla dimensão: estão em processo de formação e são formadores em potencial.

O texto de Moema Helena Koche de Albuquerque Kiehn intitulado Educação da pequena infância: um olhar sobre a formação inicial dos professores de educação infantil contribui com o debate referente à formação de professores das crianças pequenas nos cursos de Pedagogia. Para tanto, analisa currículos de cursos oferecidos em dezesseis universidades federais brasileiras, por intermédio de três eixos: Fundamentos Teóricos, Metodologias e Prática. Rocha, Sacristán, Popkewitz, Moreira e Silva são autores que sustentam suas análises.

Contribuindo também com a discussão sobre formação de professores, o texto Experiências de estagiários de licenciaturas: as relações entre a universidade escola, de Heloisa Salles Gentil traz a visão dos alunos de três cursos de licenciatura – História, Matemática, Computação – de uma universidade pública brasileira sobre os estágios. Analisando as orientações legais para a realização de estágios, os documentos dos cursos e entrevistas com alunos, a autora busca, baseada em autores como Pimenta, Marcondes e Veiga, perceber a relação entre universidade e escola presentes nesse momento específico da formação de professores. Suas conclusões indicam que, apesar de ser fundamental para a formação do professor, o momento do estágio tem privilegiado as ações de regência, em especial conteúdos e métodos de ensino, mas as relações entre a universidade e a escola têm sido pouco consistentes, não contribuindo para uma verdadeira relação dialógica.

A terceira parte, Escolas e relações pedagógicas, compõe-se de seis textos que tomam o espaço escolar como local privilegiado para as análises das relações pedagógicas. O primeiro deles, de autoria de Solange Aparecida da Rosa e Maria Isabel Batista Serrão, intitulado Escola e formação escolar: reflexões a partir da produção do grupo de trabalho educação fundamental da ANPEd (2000-2005), apresenta uma análise referente a trabalhos apresentados nas reuniões da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), buscando perceber como são concebidas e tratadas as categorias “escola” e “formação escolar”. Tais trabalhos, oriundos do Grupo de Trabalho “Educação Fundamental”, referem-se ao período entre 2000 e 2005. Warde, Davídov e Canário são bases para as análises desenvolvidas pelas autoras que observam a relação entre formação de professores e o que se produz academicamente sobre tal tema.

Claricia Otto, com o seu artigo Elementos políticos e pedagógicos em cartilhas escolares italianas nos possibilita pensar as tensões entre educação, sociedade e cultura mediadas pelo ensino. Toma como fonte principal uma cartilha italiana intitulada “A menina italiana na escola”, usada nos três Estados do Sul no final do século XIX e início do XX. A autora leva-nos inferir que a função social das escolas da época consistia em afirmar os valores de determinada cultura – a italiana, a fim de legitimar o pertencimento a ela. Bourdieu, Frago e Forquin foram alguns autores que subsidiam suas análises.

O texto A sombra da violência na relação pedagógica: um estudo das representações de dirigentes e professores de escolas de ensino fundamental e médio, de Emília Darci de Souza Cuyabano, aborda as possíveis lidas de gestores e professores com a violência e a articulação de tais ações na relação pedagógica. Tendo Gilbert Durand, Michel Maffesoli e Paula Carvalho como seus principais aportes teóricos, a autora indica que, para professores e dirigentes, o imaginário heróico e o imaginário místico são as matrizes das práticas e das representações sobre a violência.

Maria Izete de Oliveira e Rinalda Bezerra Carlos, em seu texto Fazeres na pré-escola: uma prática consistente? discutem a prática pedagógica das professoras envolvendo duas temáticas específicas da educação infantil: o movimento e a linguagem oral e escrita. Vygotsky, Arce e Martins são alguns dos autores que contribuem com as análises apresentadas. As autoras sintetizam suas análises indicando que as práticas pedagógicas das professoras se fundamentam ora numa concepção de pré-escola como um momento de passatempo, ora como preparação da criança para o Ensino Fundamental, não há intencionalidade em trabalhar movimento e linguagem de forma a propiciar as aprendizagens necessárias.

O texto intitulado Mediação na prática pedagógica de professores dos ciclos iniciais do ensino fundamental, de autoria de Tatiane Lebre Dias, Sônia Regina Fiorim Enumo, Mirian da Silva Marinho Moreira e Fabiana Muniz Mello Félix, possibilita-nos perceber critérios que, segundo a Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural e o conceito de Experiência de Aprendizagem Mediada, poderiam organizar as análises referentes às ações pedagógicas: Intencionalidade; Transcendência; Competência/Regulação na tarefa; Competência/Elogiar-encorajar e Responsividade contingente. Estudando o contexto de quatro professoras do primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental de uma escola pública em Mato Grosso, as autoras observaram a pertinência da escala para avaliação da Experiência de Aprendizagem Mediada denominada Mediated Learning Experience (MLE) Rate Scale (Escala de Avaliação da Experiência de Aprendizagem Mediada). Suas análises são subsidiadas por estudos de autores como Fonseca, Lidz, Tzuriel e Haywood & Tzuriel.

Por fim, as contribuições de Maritza Maciel Castrillon Maldonado, no texto Escola, multiplicidade e desejo: agenciamentos necessários, apresenta uma discussão a respeito do processo de subjetivação de crianças a partir de questões sobre a possibilidade de conciliação entre escola, multiplicidades e desejos. A autora tem como interlocutores principais Walter Benjamin, Michel Foucault, Gilles Deleuze e Felix Guattari. A narrativa de uma vivência escolar exemplifica a disciplinarização dos saberes e do corpo como resultado das práticas pedagógicas escolares e a análise da autora coloca em questão o papel dos educadores.

Assim, acreditamos que a leitura desse livro contribuirá com as reflexões necessárias acerca de questões educacionais contemporâneas, especialmente por apresentar como eixo as práticas pedagógicas sem, contudo, ater-se a um nível de ensino. Os temas apresentados buscaram apresentar o entrelaçamento existente entre as políticas, as práticas, os contextos em que se desenvolvem e também as possibilidades de análise e compreensão da realidade educacional sob várias perspectivas teórico-metodológicas.

Heloisa Salles Gentil

Maria Helena Michels